segunda-feira, 17 de julho de 2017

Bullying: A brincadeira sem limite

Colocar apelidos, discriminar, perseguir, excluir, agredir, roubar material: atitudes como essas, praticadas por crianças e adolescentes, têm um forte impacto na vida dos seus colegas. Ninguém parece escapar de provocações de mau gosto no corredor ou na sala de aula, mas quando esse comportamento se torna recorrente, pode ser caracterizado como bullying ou, em português, violência ou assédio moral infantil. Nesses casos, a brincadeira não tem a mínima graça.


Uma criança que sofre desse tipo de assédio pode apresentar desde queda no rendimento escolar ao suicídio, em casos extremos. O termo bullying foi batizado pelos ingleses na década de 80, mas no Brasil os estudos sobre seus efeitos ainda são escassos.

Uma das entidades não-governamentais preocupadas com o problema é a Associação Brasileira Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência (Abrapia). Segundo pesquisa por ela realizada em 2002, 40,5% dos alunos admitiram envolvimento direto em atos de bullying, naquele ano, sendo 16,9% alvos e 12,6% autores. O resultado do estudo, com 5.875 estudantes de 5ª. a 8ª. séries, no Estado do Rio de Janeiro, mostra que pais e professores precisam estar preparados para lidar com o problema, tão logo apareça.

"Esse tipo de comportamento às vezes não é enxergado com clareza. É melhor que ele apareça para que o professor atue", adverte Marieta Nicolau, professora da Faculdade de Educação e especialista em psicologia da educação infantil. "Daí a importância que o adulto tem de observar e dialogar, para saber o que está por detrás dessa atitude. Ele precisa agir como um intermediário para criar um clima psicológico adequado", destaca. 

Sinais como chorar e não querer ir à escola podem ajudar pais a perceberem que o filho está sendo vítima do bullying. Foi o que aconteceu com a filha de Claudinei Antônio dos Santos, funcionário da Prefeitura da Esalq. "Ela reclamava e só ia para escola chorando. Um dia chegou chorando em casa e só depois contou que as coleguinhas falavam que ela era feinha e magricela, puxavam seu cabelo, pegavam o material e jogavam fora."

O funcionário acredita que a menina, que tinha 9 anos na época e estava na 3ª. série, devia estar sofrendo ataques das colegas por muito tempo, mas não comentava nada com ninguém. "Ela é muito quieta, não reage, é passiva", conta. Quando finalmente entenderam seu drama, Claudinei e a esposa foram falar com a coordenadora da classe da filha, que disse não saber que a violência moral estava acontecendo.

Para a Abrapia, os casos de meninas envolvidas com o bullying são raros, e a freqüência é muito maior entre meninos, tanto como autores ou como alvos. Já a professora Marieta não é favorável a ditar receitas para esses comportamentos. "As relações são muito complexas, dependem da herança cultural do grupo e dos pais, além da dinâmica da classe."

Ainda segundo a Abrapia, os autores do bullying procuram pessoas que tenham alguma característica que sirva de foco para suas agressões. Por isso a abordagem de quem se diferencie do grupo por apresentar obesidade, baixa estatura ou deficiência física. Já na opinião de Marieta, a aparência não é o fator determinante: "uma 'gordinha' pode ser bem ajustada e uma 'loirinha', não".

No entanto, ela destaca a importância de ajudar meninos e meninas a encarar a diversidade sem preconceito, e defende que a troca aberta de pontos de vista e o debate de idéias são essenciais para que as "crianças aceitem coisas que de início não eram delas".

"Aconselho minhas filhas a aceitarem os outros como são", diz Cleusa Aparecida Barbosa, funcionária da Faculdade de Direito. Ela acredita que o problema está tão presente nas turmas das filhas, de 17 e 19 anos como esteve na sua época de colégio. "Quando eu ficava de segunda época (recuperação), sofria um desconforto", lembra Cleusa, que compara: "antes era mais leve, hoje a discriminação é mais voltada para a aparência".

O bullying entre adolescentes ganha traços peculiares na opinião da professora Marieta. "Nessa fase a auto-suficiência é maior, o jovem pode encontrar o ponto fraco do outro com mais facilidade", ressalta.

A funcionária Paula (nome fictício) chegou a trocar a filha de 13 anos de escola. Como tinha o costume de dançar músicas de axé no recreio, a garota levou a fama de "exibicionista" e alguns meninos se sentiram livres para avançar o sinal. "Eles ficavam provocando e mexendo com ela. Uma vez um deles tentou 'passar a mão'", conta a mãe, que diz que a filha, por sua vez, garantia que dançava por brincadeira.

Para Marieta, esses problemas precisam ser encarados o mais cedo possível, para evitar que o adolescente leve para a vida adulta a carga dos conflitos não resolvidos. "A auto-imagem negativa tem influência futura nos estudos, trabalho e relações amorosas", prevê ela, que reforça a importância do diálogo sincero como melhor remédio contra a propagação do bullying.

fonte: http://www.usp.br/espacoaberto/arquivo/2004/espaco49nov/0comportamento.htm

terça-feira, 11 de julho de 2017

Insight sobre Ciúmes

Num desses dias normais no caminho ao trabalho, me deparei com este texto e não pude deixar de compartilhar. O autor é um homem... sim... por incrível que pareça, vi um homem escrever muito bem sobre ciumes, medo de perder, posse e insegurança... Segue o texto abaixo... boa leitura.... 



"Há alguns dias, eu tive um papo super maduro e muito saudável, com a minha linda e gostosa parceira, sobre ciúmes. Durante esta conversa, rolou um insight muito interessante, que eu quero dividir com quem tiver interesse em ler e conversar a respeito. CIÚMES, todos temos. Todos podemos sentir, pois o ciúmes é uma DEMONSTRAÇÃO DE INSEGURANÇA, um mecanismo de proteção do EGO, que por sinal, todos nós também temos, para evitar possíveis sofrimentos de perda. O ciúmes, é portanto um somente um gatilho, que aciona um determinado comportamento. Percebo que para a grande maioria das pessoas, que foram ensinadas, direta e indiretamente, através de histórias, contos, religião, novelas, revistas, preconceitos, valores familiares, que amar, só é de fato amor, quando gera exclusividade e tudo que possa ameaçar esta exclusividade, tem que ser "destruído" e "controlado". Sendo assim, a posse, que é uma a ilusão de controle, tornou-se, para estas pessoas, um hábito de comportamento. Algo que, quando acionado pelo gatilho emocional, aciona em piloto automático, sem que muitas vezes, a pessoa perceba o quão destrutivo ou destrutiva ele(a) esta sendo, contra sim mesmo e contra o relacionamento em questão. Ciúmes, todos temos, mesmo a galera do Poliamor, porém cabe a cada um de nós, aprender a criar hábitos saudáveis, que consequentemente, vão gerar comportamentos mais saudáveis, para lidar com qualquer desconforto ou inseguranças, que possivelmente, venhamos a sentir um dia, sem deteriorar relações, sem discussões, sem atritos desnecessários. A final de contas, nenhum de nós, tem o controle sobre nada, muito menos sobre ninguém. Podemos controlar somente nossos comportamentos, diante a situações agradáveis ou desagradáveis. Não pertencemos a ninguém, assim como ninguém nos pertence, mas podemos decidir com quem queremos estar, por quanto tempo queremos continuar e quanto, de fato, querermos e iremos investir, naquela relação. Então, para quem ainda sofre com ciúmes, SEGUE A DICA: Quando o tal do gatilho emocional do ciúmes, for acionado, pare e respire. Não haja por impulso, pois assim você evitará comportamentos destrutivos do piloto automático. Tente mudar seu comportamento e converse com seu parceiro ou sua parceira, sem ser inquisitivo, mas divida suas inseguranças de forma amistosa. Faça um teste, para ver o que acontece e torne isso, um hábito."

Maurício Scatolini



segunda-feira, 10 de julho de 2017

Desconstruindo moldes sociais

Somos todos seres sociáveis. E me parece muito normal ter que seguir os padrões para ser aceito nessas relações. Ao passo que, se você é um desconstruidor desses moldes sociais, automaticamente também passa a ser um anormal. E até podemos encontrar pessoas em nossos caminhos que vão sugerir um tratamento por achar que essa anormalidade é patológica e ameaçadora ao molde ou as instituições desse mundo, como por exemplo casamento. 
Pesquisando muito, e lendo muito sobre isso, para fazer da minha vida um novo padrão, me deparei com um texto maravilhoso que exprime todas as palavras e conceitos que mergulham em meu coração. Vou compartilhar porque isso se faz mais do que necessário. Isso é um patrimônio para uma nova sociedade, para um novo molde social. Eu me enquadro nesse novo molde e com muito orgulho. Segue o texto...

Liberdade, piranhice, (não-)monogamia e hipocrisia


Embora a gente ache que o amor é um sentimento universal e natural às relações humanas, o que se entende por amor varia de cultura pra cultura e mudou várias vezes ao longo da história. Aquilo que acreditamos que é o amor serve de guia para as relações amorosas que temos. Se acreditamos que amor é fazer sacrifícios, acharemos normal fazer sacrifícios em nossas relações. Se acreditamos que amor é difícil, aceitaremos viver uma relação que nos parece ter muitas dificuldades. Se acreditamos que tem que ser leve, teremos apenas relações que julguemos leves. E por aí vai.

Entender que não existe o amor como um sentimento puro, mas sim conceitos construídos sobre ele, que mudam de acordo com o contexto sócio-histórico, nos permite entender que, se é construído, pode ser desconstruído. Não precisa ser o que nos ensinaram, pode ser de outro jeito. E é aí que começa a alegria: podemos tentar nos conhecer de verdade, saber quais são nossos desejos e necessidades e construir relações amorosas que de fato atendam a eles. Podemos construir relações mais satisfatórias do que o molde que nos deram.

Foi estudando amor no mestrado que aprendi sobre como esse sentimento é, acima de tudo, um conceito e o que fazemos com ele. Quando entendi que não preciso seguir o molde, tentei me ouvir. E foi assim que cheguei ao que se chama de amor livre. E é por isso que me proponho frequentemente a tentar derrubar mitos e mal-entendidos sobre o que isso é.

O que é compromisso?

Um dos maiores mitos sobre relações não-monogâmicas é que as pessoas escolhem se relacionar assim porque não querem compromisso, isto é, não querem ter responsabilidade com ninguém e não conseguem se comprometer com uma pessoa só e por isso fazem questão de estar abertas a outras.

Antes de prosseguir com a leitura, tente responder essa pergunta para si mesmo/a. O que é um relacionamento compromissado?

Para mim, ter compromisso é estar presente, não deixar na mão, poder contar com a companhia pra momentos bons e ruins, ajudar, não sumir sem explicações, fazer planos... Se ficássemos um tempo fazendo brainstorming, provavelmente pensaríamos em muito mais. Arrisco dizer, no entanto, que sexo não é algo que surgiria como sinônimo de compromisso.

Acredito que tanto pessoas não-monogâmicas quanto pessoas monogâmicas concordam que sexo não é sinônimo de compromisso.

O que pessoas monogâmicas muitas vezes fazem, sem perceber, é tratar o sexo como se ele fosse sim um sinônimo de compromisso, como se ele fosse a coisa mais importante em um relacionamento. A teoria é de que, sem exclusividade sexual, não há compromisso, não há amor, não há intimidade, não há respeito, não há planos para o futuro, não há responsabilidade afetiva, não há nada que sustente uma relação. E eu simplesmente não acho possível que sexo seja capaz de carregar tudo isso.

Sexo é apenas sexo. Quando é com alguém que amamos, é melhor. Mas o amor e o compromisso que temos com quem amamos não depende do sexo.
Lógica monogâmica X Lógica não-monogâmica

Na lógica monogâmica, uma pessoa solteira pode se relacionar com quem ela quiser — especialmente se for homem; se for mulher, normalmente é tachada de vadia. Em algum momento, essa pessoa encontra alguém que prefere em relação às outras pessoas com quem sai. Ela para de sair com todas as outras e passa a ficar apenas com essa. Nesse momento, não importa o grau de afeto, afinidade e profundidade que havia naquelas pequenas relações: todas elas serão descartadas em prol da preferida. No senso comum, um dos primeiros sinais de que se está namorando é parar de sair com outras pessoas, ou seja, tornar aquela pessoa sexualmente exclusiva é um dos primeiros requisitos para configurar um namoro.

Na lógica não-monogâmica, uma pessoa solteira pode sair com quem ela quiser. Em algum momento, ela pode se apaixonar e querer começar um namoro. Quando começa esse namoro, ela não precisa descartar todas as relações que tinha na solteirice. Todos os afetos continuam sendo cultivados, em acordo com a(s) pessoa(s) com quem ela escolheu ter um relacionamento.

Dentro da lógica monogâmica, relacionar-se sexualmente com outras pessoas é traição. Logo, é normal que se pense que transar com outras pessoas é algo abusivo e transportar esse pensamento para as relações não-monogâmicas. Acontece que, dentro da lógica não-monogâmica, relacionar-se sexualmente com outras pessoas é tão abusivo quanto jogar War com outras pessoas. Ou seja, embora legítima, a preocupação que muitas mulheres dentro do feminismo têm com esse tipo de abuso é, na verdade, fazer análise do mesmo elemento dentro de uma lógica que é fundamentalmente diferente. O contexto é todo outro.

Se, na lógica monogâmica, falta de exclusividade sexual é abuso, na lógica não-monogâmica, abuso é cercear a liberdade da pessoa que amamos. A liberdade, no caso, apenas inclui a liberdade sexual, não se limita a ela. (Discorro sobre isso mais abaixo.)

É um grande mal-entendido acreditar que relacionamentos não-monogâmicos são essencialmente abusivos apenas por não terem exclusividade sexual. Não que relações não-monogâmicas não possam ser abusivas; é claro que abusos existem, como não poderia deixar de ser em qualquer tipo de relação, especialmente uma heteroafetiva em sociedade patriarcal. Mas os abusos se dão em outro contexto — a lógica não-monogâmica — e são frequentemente discutidos em grupos para pessoas não-monogâmicas. Tais discussões são muito mais ricas, produtivas e compromissadas com a realidade do que as críticas vazias que muitas pessoas monogâmicas preconceituosas teimam em jogar por aí por acreditarem que, com isso, estão protegendo mulheres de sofrerem abuso. Sendo que, em seus argumentos, o conceito de abuso parte da crença de que a falta de exclusividade sexual tira de um relacionamento uma série de características importantes que formariam, então, uma relação abusiva. Só que, volto a afirmar: o contexto é outro, a lógica é outra.

Vou tentar explicar a confusão usando uma analogia que já usei na newsletter:

Uma mulher diz que não é feminista, porque acredita que homens e mulheres devem ter direitos iguais. A definição mais básica do feminismo, aquela que eu acho que todas as vertentes concordam, é acreditar que homens e mulheres devem ter direitos iguais.
Quando uma pessoa, por desinformação, fala algo assim, ela passa pra outras um conceito errado sobre feminismo. Quem escuta isso sai achando que feminismo é equivalente a machismo, cria um preconceito contra feminismo e passa a advogar contra ele também.

Vejo o mesmo acontecendo com o amor livre. A pessoa diz que não quer um amor livre, porque quer uma relação com compromisso, carinho, intimidade, planos. Amor livre não exclui nenhuma dessas coisas, muito pelo contrário. Quando uma pessoa, por desinformação, fala algo assim, ela passa pra outras um conceito errado sobre amor livre.
Quem escuta isso sai achando que amor livre é não ter compromisso, carinho, intimidade, planos e cria um preconceito contra amor livre e passa a advogar contra ele também.

Eu também quero uma relação com compromisso, carinho, intimidade, planos… Mas quero tudo isso dentro da não-monogamia e sei que a monogamia não garante nenhum dos itens.
Relações não-monogâmicas são sanduíches do Subway

Há um conflito inevitável entre as duas lógicas quando tentamos analisar os elementos de uma usando os parâmetros da outra. Da mesma forma que uma pessoa monogâmica acha um absurdo se relacionar com outras, uma pessoa não-monogâmica acha que absurdo é não poder fazer isso.

Vamos voltar ao que falei lá em cima: o que se entende por amor — e consequentemente relacionamentos — varia de acordo com o contexto sócio-histórico e, por isso, não há um molde a ser seguido. Porém, existe um molde referencial, tido como correto e único, que é o sistema monogâmico. A monogamia é um pacote pronto. Em um relacionamento monogâmico, você não precisa adotar tudo que o sistema monogâmico propõe. Você pode adaptar o pacote. No entanto, isso não muda o fato de que o pacote existe como referência, seja pra você ratificar, desafiar, problematizar ou o que for.

As relações não-monogâmicas, por sua vez, são tipo os sanduíches do Subway. Até tem uns modelos, uma variedade de modelos (poliamor, relacionamento aberto, relação livre etc.) prontos pra você tomar como referência inicial se quiser tentar uma relação assim e estiver muito perdida/o quanto a como vai fazer isso. Mas você também pode criar totalmente do zero. Gosto de pão três queijos, 30 cm, frango defumado com cream cheese, queijo cheddar, dobra com suíço, molho chipotle, molho mel e mostarda, muito orégano e pimenta do reino e tá pronto pra mim. Isso mesmo, eu pulo a salada. Sabe por quê? Porque o sanduíche é meu e eu posso montá-lo de acordo com as minhas preferências. Não me sinto pressionada a comer alface nenhum, porque não tem nada ali dizendo que o correto é comer alface.

Enfim, dentro da não-monogamia, cada pessoa monta seu próprio relacionamento, como se fosse um sanduíche do Subway, de acordo com suas próprias preferências.
Liberdade e liberdade sexual

Outro mito frequente — diretamente ligado ao primeiro — sobre relações não-monogâmicas é que elas são uma grande putaria desenfreada e que as pessoas que escolhem se relacionar assim fazem isso porque querem transar com o máximo de pessoas possível.

De acordo com esse mito, pessoas não-monogâmicas são loucas por sexo, isto é, dão muita importância ao sexo e à variedade e por isso não querem “se prender” a uma pessoa só. Existe no senso comum uma pressuposição de que pessoas não-monogâmicas se importam mais com sexo do que pessoas monogâmicas. Na verdade, é exatamente o contrário: sexo é tão sem importância, que fazer ou deixar de fazer com outras pessoas não muda em nada a relação amorosa que você mantém.

Mas amor livre, ao contrário do que se pensa popularmente, não é sobre liberdade sexual. É sobre liberdade. O termo “amor livre” costuma ofender algumas pessoas monogâmicas, como se a maneira que elas têm de amar não fosse livre também. Uma pessoa monogâmica lendo isso agora pode dizer: “mas eu não me sinto presa”. A prisão não é a relação monogâmica que você escolheu pra si, mas a monogamia como sistema imposto como única forma legítima de se relacionar afetiva-sexualmente com alguém.

Amor livre é um termo que vem do anarquismo. Representa o ideal de viver relações amorosas desligadas da Igreja e do Estado. Sendo a monogamia (e o casamento e outros valores tradicionais) o modelo de relação amorosa imposto pela Igreja e pelo Estado, é isso que o anarquismo rejeitava. Chamar relações não-monogâmicas de amor livre não é o mesmo que dizer que aqueles que não vivem relações dessa maneira estão presos. É só um amor livre dessas convenções sociais que nos são impostas.

Acontece que poder se relacionar sexualmente com outras pessoas é algo que choca tanto aqueles que têm uma visão mais tradicional de como relacionamentos são que, quando falamos de amor livre, parece que falamos apenas de liberdade sexual — que, dentro de um contexto patriarcal, será sempre limitada para mulheres. Pessoas monogâmicas costumam focar muito nisso quando falamos de amor livre, mas as pessoas não-monogâmicas, na verdade, se preocupam muito pouco com sexo. Poder fazer não quer dizer fazer sempre ou até chegar a fazer.
Autonomia

O que mais me agrada no amor livre é a autonomia — diferente de individualismo e egoísmo — que ele encoraja. O amor romântico, aquele que pauta as relações tradicionais, é necessariamente um amor de dependência emocional, pois parte da premissa de que uma pessoa completa a outra. Eu gosto da ideia de que já sou completa e que meu parceiro também é. Gosto também que não temos obrigações um com o outro — o que não quer dizer que não fazemos nada um pelo outro.

Eu e ele somos livres para nos relacionarmos com quem quisermos, da maneira que quisermos, limitados apenas por alguns acordos — eu não ponho salada no meu sanduíche do Subway e ele respeita isso, assim como eu respeito que ele odeia pimenta. Saber que ele não está comigo por nenhuma dívida, obrigação, carência, medo de ficar sozinho ou necessidade e que ele pode ir embora a qualquer momento e ficar com outra pessoa e que, ainda assim, ele escolhe permanecer comigo, me faz sentir amada. Além disso, acredito que pessoas livres de restrições a seus desejos são mais felizes e gosto de vê-lo feliz. Gosto que ele saia e se divirta com outras pessoas. E também me sinto amada que ele me encoraje a fazer o mesmo e quando ele se preocupa se estou sendo bem tratada por outra pessoa com quem me relacione. Eu, com todos as minhas questões de autoestima e insegurança, me sinto muito mais segura em uma “relação aberta”.

Sexo é desejado igualmente por pessoas monogâmicas e pessoas não-monogâmicas. A diferença é que, quando uma pessoa monogâmica faz sexo fora de seu relacionamento, isso é uma traição do acordo do casal e, quando uma pessoa não-monogâmica faz isso, não é. Via de regra, quem escolhe viver uma relação de amor livre não está em busca de transar com o máximo de pessoas que conseguir. Quem escolhe o amor livre gosta de saber que, se quiser, pode, e gosta de saber que, se a outra pessoa quiser também, ela também pode. Essa autonomia de cada um para fazer escolhas verdadeiras a quem somos em vez de apenas obedecer regras que nos ensinaram me faz sentir especialmente leve.
A hipocrisia da lógica monogâmica

Conforme comentei mais acima, o senso comum acredita que pessoas não-monogâmicas valorizam muito o sexo e por isso escolhem relações livres de exclusividade sexual. Em paralelo, acredita-se também que é na monogamia que se dá importância ao que realmente importa, os sentimentos, o companheirismo etc. Embora não seja tão aparente, na prática, são as pessoas monogâmicas que dão essa importância toda pra sexo, visto que desejar outra pessoa sexualmente é motivo para duvidar de tudo que houver na relação (do amor, do respeito, da confiança...).

No meu texto sobre relacionamento aberto a partir da declaração da Jout Jout, escrevi que “É um mito achar que uma pessoa transa com todo mundo só porque está em um relacionamento não-monogâmico. O que vale é a ideologia: a sexualidade é parte do indivíduo e o respeito à liberdade do indivíduo faz com que ele possa se relacionar sexualmente com outras pessoas caso queira. Na prática, muitas pessoas não-monogâmicas nem chegam a ficar com ninguém e acabam sendo muito mais monogâmicas do que muita gente que se diz monogâmica.”

Em um compartilhamento aleatório do texto, li um comentário muito interessante. A pessoa destacava o trecho que copiei acima e dizia:

Traduzindo esse “ata”, o que ele estava dizendo era: “Se eu pudesse transar com outras pessoas, eu faria isso o tempo todo. Quer dizer então que eles podem transar e não fazem isso? Até parece! É óbvio que não é assim!” Isso é bem como a lógica monogâmica funciona: diz se importar com um relacionamento amoroso e compromissado, mas associa amor e compromisso à exclusividade sexual, e gostaria de transar com outras pessoas, mas renuncia a isso ou trai — e aí desdenha de quem escolhe fazer diferente. (Por favor, não estou falando que todas as pessoas monogâmicas funcionam assim, hein, estou criticando o sistema!)

É comum as pessoas dizerem que “não podem começar a namorar em janeiro, porque em fevereiro tem carnaval”. Tem também um monte de gente que termina namoro um pouco antes do carnaval e volta logo depois. São, muitas vezes, pessoas que praticam uma pegação desenfreada nessa época do ano e se afirmam monogâmicas, achando que ser monogâmica significa ter valores dentro de um relacionamento amoroso, só porque, quando namoram, prometem exclusividade — coisa que frequentemente não cumprem. Conheço diversas pessoas solteiras (ou não) que se entendem como monogâmicas, que afirmam ser monogâmicas e, na prática, se relacionam por semana com mais gente do que eu já me relacionei na vida.

Veja bem, não há problema nenhum em transar com uma pessoa diferente cada dia da semana se for consensual pra todo mundo. E uma pessoa não deixa de ser monogâmica só porque, quando está solteira, sai com muita gente. O que estou criticando aqui é a hipocrisia de julgar pessoas não-monogâmicas como promíscuas, quando a realidade é que pessoas monogâmicas fazem tanto sexo quanto as não-monogâmicas, variando de indivíduo pra indivíduo e não de acordo com a lógica de relacionamentos que seguem.

A única diferença entre um grupo e outro é que, dentro da não-monogamia, fala-se abertamente sobre isso – isto é, todo mundo sabe que sou não-mono, então é óbvio que a piranha sou eu. Dentro do sistema monogâmico, de maneira hipócrita, confunde-se amor e compromisso com machismo e moralismo.
Promiscuidade e moralismo

Também em um comentário no texto que escrevi a partir do relacionamento aberto da Jout Jout, li que “enquanto houver maternidade compulsória, é irresponsável defender relações livres no contexto brasileiro”. Foi um comentário que me deixou muito triste, pois há duas premissas nessa afirmação:
mulheres não-monogâmicas transam com mais homens do que mulheres monogâmicas e
relações não-monogâmicas não têm compromisso, por isso é mais fácil abandonar a mulher que engravidar acidentalmente.

As duas premissas denotam os mitos que vim discutindo ao longo do texto, o de que não há compromisso em uma relação livre e o de que ela é uma putaria desenfreada (baseando-se em outra premissa, a de que não existe essa suposta piranhice no meio monogâmico).

Considerando que todos os métodos contraceptivos são falhos em alguma porcentagem e que o aborto não é permitido no Brasil, de fato, uma gravidez indesejada é algo com que se preocupar. No entanto, alegar que mulheres não-monogâmicas estão mais propensas a ficarem grávidas e a serem abandonas por seus parceiros do que mulheres monogâmicas (solteiras ou não) é apenas preconceito e, por isso, me ofende e me chateia. Não há estatística nenhuma pra embasar essa propensão; há apenas um senso comum que discrimina formas de se relacionar que não são a padrão.

O que me parece irresponsável é fazer tanta questão de defender a monogamia tradicional em um contexto social em que 1) homens se acham donos de mulheres e 2) mulheres são criadas sem autoestima, aceitando serem controladas e submissas. Se uma mulher acredita na lógica monogâmica que descrevi mais no início do texto e escolhe viver assim, nada de errado. Acho importante apenas problematizar o quanto de espaço pra abuso há na lógica dos relacionamentos tradicionais e tentar não reproduzir isso nos próprios. Do mais, como feminista, celebro a oportunidade de defender formas de se relacionar que estimulem a autonomia do indivíduo, especialmente da mulher. E me choca que tantas feministas defendam o oposto, se baseando principalmente em argumentos do senso comum que não correspondem à realidade.
Concluindo

Comentários e textões contra a não-monogamia são frequentes. Alguns por acreditarem que relações não-monogâmicas são essencialmente abusivas, outros por não as validarem como relações amorosas de verdade. Observo também que há certo ranço por parte de algumas pessoas monogâmicas, muito devido ao comportamento esnobe de algumas pessoas não-monogâmicas. É comum, até mesmo nos meios não-monogâmicos, rolar uma batalha de desconstrução, como se, quanto menos ciúme você fosse capaz de sentir, mais evoluído como ser humano você fosse. E isso é besteira. No entanto, como muitas pessoas não-monogâmicas agem como se fossem superiores por isso, é normal que muitas pessoas monogâmicas tenham preguiça e antipatia pelo tema.

A não-monogamia não é um estágio evolutivo a ser alcançado. Ela é apenas uma opção, um arranjo, dentre muitos possíveis para se relacionar. Se defendo tanto a não-monogamia, é porque em um mundo que diz equivocadamente que ela é abusiva, promíscua e descompromissada, que casos de sucesso são excepcionais e não interessam e que a monogamia é o correto indiscutível, ela precisa ser defendida. Não tenho como quantificar casos de sucesso dentro da não-monogamia pra saber se são ou não exceções no meio, mas é um fato que os casos de sucesso dentro da monogamia não são representativos. A diferença é que eu não culpo a monogamia pelo insucesso dessas relações. Mas a não-monogamia é constantemente culpada por qualquer coisa que dê errado (“terminou porque era aberto”, “se era aberto, nem começou”, “tá vendo, isso não dá certo, não” — só comentários reais).

Quando defendo a não-monogamia, não estou atacando pessoas monogâmicas. Estou criticando um sistema quase compulsório de como as pessoas devem se relacionar e clamando por aceitação de outras formas. Muitas pessoas se sentem ofendidas quando leem essas defesas, mas acredito que, em um mundo em que a monogamia é considerada o correto e que não-monogâmicos têm sempre que explicar, justificar e defender seus próprios relacionamentos, acho que dá pra entender e perdoar defesas mais categóricas ao amor livre.

Às vezes sinto que estou tentando explicar por que brócolis é bom no meio de um mundo de batata frita. Sempre que elogio o brócolis, surge um monte de gente pra dizer que batata é bom também, não tem nada errado com batata, por que essa implicância com batata etc., sendo que a batata não está precisando de defesa. É quase senso comum que batata é bom. Nada que seja dito contra a batata vai ser mais agressivo e frequente do que aquilo que é dito sobre o brócolis. Então, deixa eu defender o brócolis, porque ele sim está sendo massacrado — injustamente — de tudo que é lado.

Laura Pires


Fica evidente que não é patologico amar, se relacionar, se entregar, viver experiencias novas, viver um molde diferente. Fica claro também que esse novo conceito não é complicado e nem estranho.... Complicado e estranho são as pessoas... 

Descomplique... desconstrua.... e viva... 

C.R.S.R. 

sexta-feira, 7 de julho de 2017

Poliamor



Poliamor (do grego πολύ - poli, que significa muitos ou vários, e do Latim amor, significando amor) é a prática, o desejo, ou a aceitação de ter mais de um relacionamento íntimo simultaneamente com o conhecimento e consentimento de todos os envolvidos, não devendo, no entanto, ser confundido com pansexualidade.


Poliamor é um termo por vezes utilizado num sentido mais amplo para se referir a relações sexuais ou romântico que não incluem apenas sexo, embora haja discordância sobre quão amplamente se aplica; a ênfase na ética, honestidade e transparência como um todo é amplamente considerada por seus defensores como crucial para definir sua característica.


Por outras palavras, o poliamor como opção ou modo de vida, defende a possibilidade prática de se estar envolvido em relações íntimas, profundas e eventualmente duradouras com vários parceiros simultaneamente.

Existem várias maneiras de o pôr em prática, consoante às preferências dos interessados, e necessariamente deve envolver o consentimento e a confiança mútua de todas as partes envolvidas.


Polifidelidade: envolve múltiplas relações românticas com contacto sexual restrito a parceiros específicos do grupo.


Sub-relacionamentos: distinguem-se entre relações "primárias" e "secundárias" (um exemplo é a maioria dos casamentos abertos)

Poligamia (poliginia e poliandria): uma pessoa casa com diversas pessoas (estas podem ou não estarem casadas ou terem relações românticas entre elas).


Relações em Grupo/casamento em grupo: todos se consideram associados de forma igualitária.
Popularizado até certo ponto por Robert A. Heinlein, em romances como: Stranger in a Strange Land e The Moon Is a Harsh Mistress, Starhawk nos seus livros The Fifth Sacred Thing e Walking to Mercury.


Redes de relacionamentos interconectados: uma pessoa em particular pode ter relações de diversas naturezas com diversas pessoas.


Relações Mono/Poli: um parceiro é monogâmico, mas permite que o outro tenha relações exteriores.


Os chamados "acordos geométricos", que são descritos de acordo com o número de pessoas envolvidas e pelas suas ligações.
Exemplos incluem "trios" e "quadras", assim como as geometrias "V" e "N". O elemento comum de uma relação V é algumas vezes referido como "pivô" ou "charneira", e os parceiros ligados indirectamente são referidos como os "braços". Os parceiros-braço estão ligados de forma mais clara com o parceiro pivô do que entre si. Situação contrastante com o "triângulo", em que todos os 3 parceiros estão ligados de forma equitativa. Um trio pode ser um "V" , um triângulo, ou um "T" (um casal com uma relação estreita entre si e uma relação mais ténue com o terceiro). A geometria da relação pode variar ao longo do tempo.

Algumas pessoas em relações sexuais e/ou emocionais exclusivas podem, mesmo assim, auto-intitularem-se poliamorosas, se tiverem laços emocionais relevantes com outras pessoas. Adicionalmente, pessoas que se descrevem como poliamorosas podem entrar em relações monogâmicas com um determinado parceiro, quer por terem negociado a situação, quer por se sentirem bem com a situação monogâmica com aquele parceiro em particular.

Alguns praticantes do poliamor são adeptos do swing.

Relações abertas

A expressão relacionamento aberto indica uma relação afetiva estável (usualmente entre duas pessoas) em que os participantes são livres para terem outros parceiros. Se o casal que escolhe esta alternativa é casado, fala-se em casamento aberto. "Relação aberta" e "poliamor" não são sinônimos. Em termos genéricos, "aberto" refere-se a uma não exclusividade sexual no relacionamento, enquanto o poliamor envolve a extensão desta não exclusividade para o campo afetivo ao permitir que se criem laços emocionais exteriores à relação primordial com certa estabilidade.
Alguns relacionamentos definem regras restritas (ex: polifidelidade); estas relações são poliamorosas, mas não abertas.
Alguns relacionamentos permitem sexo fora da relação primária, mas não uma ligação emocional (como no swing); estas relações são abertas, mas não poliamorosas.


O importante do poliamor é que cada relação terá suas regras, sua forma de viver esse amor. Por mais que tenhamos definições pelo mundo, a relação é definida pelas pessoas que desejam viver o poliamor. 


Muitas pessoas afirmam que a relação poliamorosa é complicada. Eu acredito que complicado são as pessoas e não a relação. 


Todos nós somos seres poliamorosos, basta apenas entender que cada pessoa é única e nenhuma irá substituir a outra. Cada pessoa da relação poliamorosa é unica e tem sua importância e seu valor. 


Portanto você é único nessa relação de mais pessoas. E seu amor é importante. Sua presença é imprescindivel e insubstituível. 


Viva o Poliamor!!!!


C.R.S.R

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Misoginia


Você sabe o que é Misoginia?

Misoginia (do grego μισέω, transl. miseó, "ódio"; e γυνὴ, gyné, "mulher") é o ódio, desprezo ou preconceito contra mulheres ou meninas. A misoginia pode se manifestar de várias maneiras, incluindo a exclusão social, a discriminação sexual, hostilidade, androcentrismo, o patriarcado, ideias de privilégio masculino, a depreciação das mulheres, violência contra as mulheres e objetificação sexual. A misoginia pode ser encontrada ocasionalmente dentro de textos antigos relativos a várias mitologias. Além disso, vários filósofos e pensadores ocidentais influentes têm sido descritos como misóginos.

"A [misoginia] é um aspecto central do preconceito sexista e ideológico, e, como tal, é uma base importante para a opressão de mulheres em sociedades dominadas pelo homem. A misoginia é manifestada em várias formas diferentes, de piadas, pornografia e violência ao auto-desprezo que as mulheres são ensinadas a sentir pelos seus corpos". (JOHNSON)

"A misoginia funciona como uma ideologia ou sistema de crença que tem acompanhado o patriarcado ou sociedades dominadas pelo homem por milhares de anos e continua colocando mulheres em posições subordinadas com acesso limitado ao poder e tomada de decisões. [...] Aristóteles sustentou que mulheres existem como deformidades naturais e homens imperfeitos [...] Desde então, as mulheres em culturas Ocidentais tem internalizado seu papel como bodes expiatórios da sociedade, influenciadas no século 21 pela objetificação das mesmas pela mídia com seu auto desprezo culturalmente sancionado e fixações em cirurgia plástica, anorexia e bulimia."  (FLOOD).


quarta-feira, 5 de julho de 2017

As únicas certezas da vida: Prazer e Dor

Os filósofos têm tentado abalar todas as nossas certezas e mostrar que do mundo conhecemos apenas aparências. Possuiremos sempre, porém, duas grandes certezas, que nada poderia destruir: o prazer e a dor. 

Toda a nossa atividade deriva delas. As recompensas sociais, os paraísos e os infernos criados pelos códigos religiosos ou civis baseiam-se na ação dessas certezas, cuja evidente realidade não pode ser contestada. 


Desde que a vida se manifesta, surgem o prazer e a dor. Não é o pensamento, mas a sensibilidade, que nos revela o nosso “eu”. Se dissesse: “Sinto, logo existo” ao invés de: “Penso, logo existo”, Descartes estaria muito perto da verdade. Assim modificada, a sua fórmula aplica-se a todos os seres e não a uma fração apenas da humanidade. 

Dessas duas certezas poder-se-ia deduzir a completa filosofia prática da vida. Fornecem uma resposta segura à eterna pergunta tão repetida desde o Eclesiastes: por que tanto trabalho e tantos esforços, já que a morte nos espera e o nosso planeta se extinguirá um dia? 

Porquê? Porque o presente ignora o futuro e no presente a Natureza condena-nos a procurar o prazer e a evitar a dor. 

O operário, curvado sob o peso do trabalho, a irmã de caridade, a quem não repugna nenhuma chaga, o missionário torturado pelos selvagens, o sábio que procura a solução de um problema, o obscuro micróbio que se agita no fundo de uma gota d'água, todos obedecem aos mesmos estimulantes de atividade: o atrativo do prazer, o receio da dor. 

Nenhuma atividade tem outro móbil. Não poderíamos mesmo imaginar móbis diferentes desses. Só os nomes podem variar. Prazeres estéticos, guerreiros, religiosos, sexuais, etc., são formas diversas do mesmo aspecto fisiológico A atividade dos seres se dissiparia se desaparecessem as duas certezas que são os seus grandes móbis: o prazer e a dor. 

Gustave Le Bon, in "As Opiniões e as Crenças"

Conceito de Insight

Insight é um substantivo com origem no idioma inglês e que significa compreensão súbita de alguma coisa ou determinada situação.



O insight também está relacionado com a capacidade de discernimento, pode ser descrito como uma espécie de epifania. Nos desenhos, o insight é representado com o desenho de uma lâmpada acesa em cima da cabeça do personagem, indicando um momento único de esclarecimento em que se fez luz.


Um insight é um acontecimento cognitivo que pode ser associado a vários fenômenos podendo ser sinônimo de compreensão, conhecimento, intuição. Algumas pessoas afirmam um insight é a perspicácia ou a capacidade de apreender alguma coisa e acontece quando uma solução surge de forma repentina.

Esta palavra, que surgiu no inglês arcaico, é formada pelo prefixo in, que significa "em" ou "dentro" e a palavra sight que significa "vista". Assim, insight pode significar "vista de dentro" ou ver com os olhos da alma ou da mente.


Insight na Psicologia

Insight é um conceito muito relevante na Psicologia da Gestalt. Indica a apreensão da verdadeira natureza de uma coisa, através de uma compreensão intuitiva.

Também remete para uma visão mental ou discernimento que capacita ver situações ou verdades que estão escondidas. Muitas vezes é essencial para resolver problemas de relacionamentos, sendo que na psicoterapia um insight permite reconhecer as causas de dificuldades emocionais.

O insight também entra no campo da introspecção e autoconhecimento, pressupondo um conhecimento daquilo que motiva o comportamento, pensamento ou ação do indivíduo.


fonte: https://www.significados.com.br/insight/